BROA QUENTINHA COM CHEIRO DE ASSAPEIXE

Por Ana Maria Nogueira

Hoje não tenho mais minha mãe comigo. Ela ficou “encantada”, na versão de Guimarães Rosa, há doze anos. Meus pensamentos voam até o país maravilhoso da infância feliz em um sítio nas proximidades de Rio Espera. É sábado, um dia muito especial. Além de ser o dia em que podemos pescar, evidente que somente após o cumprimento das obrigações (varrer o terreiro com a vassoura de alecrim colhida por nós mesmos, bem de manhãzinha, no pasto das vacas de leite), minha mãe faz quitandas. Cedo, ela acende o fogo com palha de milho e lenha no forno de barro que tínhamos no terreiro. 

sítio mesquita

Deixa queimar toda a lenha até o forno ficar bem quente, enquanto isso ela vai amassando as quitandas. A broa de milho é feita com uma massa bem dura, então ela “atende” a broa com uma xícara, ou seja, pega um pouco da massa, coloca na xícara, balança até que ela adquira uma forma arredondada e lisa e então, joga-a, com força no tabuleiro.



 Antes de colocar para assar, as quitandas, ela, com uma vassoura de assapeixe, começa a varrer o forno retirando toda a cinza que restou e também as brasas. O cheiro é delicioso, pois a planta ao queimar solta um aroma agradável. Minha mãe então coloca os tabuleiros de broa no forno e espera. Daí a pouco está pronta. A broa sai quentinha. Nunca me esqueci da mistura daqueles aromas: fumaça, assapeixe e broa quente. Cheiro de alegria, aconchego, carinho de mãe. Ainda hoje, às vezes estou fazendo qualquer coisa e sinto aquele cheiro de minha infância. Imediatamente meus pensamentos viajam na felicidade da vida livre no campo junto de minha família, principalmente minha mãe, da qual guardo imensa saudade, por não se encontrar mais entre nós. Vejo-me a correr por aqueles pastos onde á tarde, uma brisa suave sobrava amenizando o calor dos raios do sol que se escondia atrás do Morro da capoeira. A vida passava de mansinho e calmamente.

Leia outras crônicas da autora em seu blog. Edugriô

One Reply to “BROA QUENTINHA COM CHEIRO DE ASSAPEIXE”

  1. Lembro-me muito desse ritual. Era minha a incumbência de ir buscar o assapeixe para varrer o forno. Adorava ficar ao lado da mamãe vendo-a amassar as quitandas. “Ronaldo, coloca mais um ovo. Ela me dizia. “Acho que agora a massa tá no ponto. Vai buscar o assapeixe para a gente varrer as brasas”. Incrível como fica na memória o cheiro da folha verde queimando. Ainda bem que existem os sonhos e a não linearidade do tempo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *